Figurante

oscarOntem conversava com uma amiga que esse negócio de ser protagonista não vale o Oscar. Essa mania de ser sempre a mocinha contente e o mocinho valente é que enfraquece o roteiro. Muitas vezes ser diretor das próprias cenas já é tão complicado que aspirar o papel principal, então, é pura roubada. Principalmente se for prá atuar onde o melhor é não aparecer prá não queimar o filme. Nem o seu, nem de ninguém. Nem como coadjuvante.

Vá lá que num filme ou outro você seja e faça um tremendo sucesso, seja reconhecido pelo seu brilhantismo e, a melhor parte, dê uma lustrada na auto-estima com sonoros aplausos. Mas o que enfraquece é acreditar que “aquele” filme não seria o mesmo se você não tivesse feito “aquela” ponta com chapéu de mexicano cochilando no posto do deserto. Tem momentos que é preciso descer do palco, enfiar a viola no saco e fazer uma simplória serenata em outra freguesia.

Por essas e outras, nada como ser figurante. Não há holofotes ou câmeras voltados prá você, é bem verdade, mas também não há a crítica observando cada gesto, fala ou falha. Como figurante, você não pode ser responsabilizado pelo fracasso da bilheteria, nem pode ser cobrado pelo próximo sucesso depois de ser indicado ao Oscar. Você não precisa ter fonoaudiólogo, estilista, assessoria de imprensa e um agente influente. Não precisa decorar textos, incorporar personagens, tirar seu número da lista telefônica, dizer “nada a declarar” ou “somos apenas bons amigos” – até porque ninguém quer saber mesmo. Ninguém sequer fica sabendo se você gagueja. Não é preciso ter o sorriso mais branco ou o cabelo mais sedoso e coisas como stress, spa’s e efeitos sanfonas sobrevivem muto bem sem você. A Caras e a Quem também.

Ser figurante é receber cachê, vale transporte, trabalhar menos horas semanais e, de quebra, ainda adubar o umbigo com o reconhecimento do vizinho ali da esquina: “Vi você na televisão”.

Você, feliz figurante, só precisa se comprometer com aquilo que é capaz, não se envolver com o que não é, nem ficar se emaranhando em atuações onde não tem certeza do seu “talento”. Seu autógrafo mais bonito é o do boletim do seu filho e seu filme de maior sucesso continua sendo aquele do porta retrato.

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