Quase que não escrevo minha crônica desta semana por dois motivos: falta de assunto mesmo, no duro, e por uma série de problemas e probleminhas que me impediram de sentar aqui e começar a pensar escrevendo. Falta de assunto poderia ser mais um problema se eu não considerasse alguns problemas como contratempo — que é como costumo chamar a maioria dos meus problemas pra não deixar morrer a Pollyana que treinei por anos a fio.
Até porque o que não tem remédio remediado está, como diz o ditado. Problema é o que não falta na vida da gente, até mesmo quando é vendido como remédio, como se vê. E tem gente com todo tipo de problema e problema pra todo tipo de gente. Conheço quem adore um, trata feito animal de estimação ou planta rara que precisa ser hidratada e adubada todos os dias. Deus o livre se o problema morre, a pessoa padece de falta e alguns não conseguem nem disfarçar o luto, tamanha dor da perda. Também há aqueles que gostam de resolver problema, “Tem problema aí? Deixa comigo!” Há quem não goste, não reconheça e não resolva, “Problema? Onde? Enlouqueceu?”. Nesse perfil é muito comum encontrarmos quem negue o problema de tal modo que não consiga articular corretamente e chama de pOblema — o que não exime a criatura de ter que encarar mais esse problema, o de falar corretamente.
Não podemos esquecer daqueles cuja criatividade abundante arruma problema onde não tem ou, pelo menos, onde não precisaria ter. Esses, chamados visionários, quase mediúnicos, enxergam pêlo em ovo e chifre em cabeça de cavalo — confesso que eu, às vezes, só às vezes, padeço desse mal. Existe ainda aquele tipo que reconhece o problema, sabe quem pariu mas chama de pendência, pepino, obstáculo, contratempo. E é onde me enquadro. Exceto se for uma quase fatalidade, aos 42 minutos do segundo tempo, me recuso, me nego, não tem por onde dar munição e chamar bandido pelo nome. Sem essas intimidades. Nego tanto que só me permito em crônica.
Gosto de dizer, ingenuamente, é verdade, que problema bom é aquele que o dinheiro resolve, mas falta de dinheiro pode ser um grande problema, sem dúvida.Embora dinheiro seja matemática e até eu, que sempre me dei melhor com letras do que com números, concordo que problema bom é o que a matemática pura e (dita) exata propõe. Então, vamos ser honestos: problema bom é problema resolvido. O resto é fórmula de máscara.
Crônica escrita, missão cumprida, vou ali resolver uns contratempos. E você, preste atenção: o dia está bonito, a temperatura está subindo, é quase primavera… Não fica aí na frente desse computador arrumando problema.
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