Acreditar Pode dar Certo

sto_antonioMinha mãe tem uma amiga de muitos anos, que morou em nossa casa pra estudar quando eu era adolescente. Eneida chegava aos 35 anos sem casar e era evidente, quando o assunto vinha à tona, que isso lhe causava desconforto. Um belo dia, quando eu chegava da escola, encontrei a imagem de Santo Antônio virada de cabeça pra baixo e mergulhada dentro de um copo de cachaça. Uma vidente que ela consultou, teria lhe dito que era tiro e queda: Santo Antonio contrariado trataria de arrumar rapidinho, um marido pra Eneida. Sempre fiquei pensando que tipo de marido um santo literalmente bêbado poderia arrumar, mas quem era eu pra questionar? Não saberia dizer se foi essa simpatia que fez com que Eneida realmente arrumasse o tal marido, fato é que ela se casou um tempo depois.

Anos mais tarde, conheci uma moça que trabalhava conosco e que vivia cheia de pacotinhos comprados em casas de umbanda. Ela fazia mil e uma oferendas, respeitava seu “Santo de Cabeça”, comprava perfumes e tomava banhos com arruda. Da minha confortável posição de observadora, eu achava que a vida dela era um tanto confusa, tanto amorosa quando financeiramente, mas a moça sempre parecia bem, não importando se a vida, aparentemente, não colaborava muito com ela.

Dia desses, no Jornal Nacional, assisti uma reportagem sobre estudantes de medicina que estão fazendo uma pesquisa com pagadores de promessas nas Igrejas do Nordeste. Porque essas pessoas acreditam que deteminado Santo lhes curou de alguma doença? Dá pra imaginar qual será o resultado dessa pesquisa sem muito esforço. Acreditar é a palavra de ordem, não importa muito se é num Santo do Candomblé, num canonizado católico, se é num Deus evangélico ou na energia do Feng Shui.

Todo mundo conhece alguém que é devoto de Santo Antônio, alguém que oferta velas e charutos perto do mar, uma amiga ‘esquisotérica’, outra que reza um terço ou que vai à missa religiosamente. Todos nós conhecemos alguém com alguma crença que parece estranha ou ingênua ao nosso cético ou curioso olhar. E por mais divergentes que sejam todas essas crenças, essas pessoas tem em comum uma estranha mania de guiar ou temperar suas vidas com a de que tudo vai dar certo.

Não são pessoas sem problemas, até porque todos os temos em graus ou áreas diferentes – mas é gente que sabe viver apesar deles. É gente com alguma doença, às vezes grave, que sempre tem uma lição de saúde pra oferecer. Gente que perdeu alguém que ama e sempre tem uma palavra de vida pra dizer. Gente que sabe que a vida acontece porque elas acreditam, apostam, levantam todas as manhãs esperançosas de que alguma coisa no universo desse Deus multifacetado, vai alcançar o que elas precisam. Gente que inspirou o dramaturgo francês Jean Cocteau pra escrever a frase: “Não sabendo que era impossível foi lá e fez”.

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